Produtos de ação desinfetante com efeito prolongado: podemos confiar?
Soluções mágicas não existem e a gente sabe disso. Mas, quando estamos em situação de vulnerabilidade, temos uma tendência maior de acreditar em discursos que satisfaçam nosso desejo de resolução. É por isso que, durante a pandemia, produtos de ação desinfetante com suposto efeito prolongado estão chamando a atenção das pessoas.
Ninguém questiona o fato de que a limpeza é uma grande aliada para o controle na disseminação do coronavírus, além de milhares de bactérias e fungos que podem ser prejudiciais à saúde. Mas é importante seguir práticas de desinfecção que possuam embasamento científico, de modo a garantir que a limpeza seja efetiva e segura.
Com a crise sanitária, o que se percebe é um aumento nas promessas relacionadas a desinfetantes com efeito residual, que teriam capacidade de manter superfícies e ambientes limpos por um longo período, chegando até a semanas.
Na realidade, esse assunto envolve mais controvérsias do que comprovações. Siga com a leitura e você vai entender por que!
Como agem os produtos de ação desinfetante?
Para entender do que se trata o efeito residual, precisamos primeiro ter clareza sobre como ocorre a ação desinfetante dos produtos desenvolvidos com essa finalidade. Dentro da química da limpeza, essa é apenas uma categoria de substâncias, entre outras que possuem funções distintas.
Os desinfetantes têm como objetivo a eliminação ou redução significativa da quantidade de microorganismos presentes em um ambiente, superfície ou utensílio. Cada tipo de desinfetante apresenta eficácia sobre organismos diferentes, variando em relação a complexidade e resistência.
O sucesso das reações químicas que acontecem quando os desinfetantes entram em contato com microorganismos depende de alguns parâmetros, como a concentração do produto e o tempo que permanece ativo depois de aplicado. Só é possível assegurar resultados satisfatórios por meio de testes de eficácia.
A formulação de desinfetantes é regulada pelo Ministério da Saúde e deve ser registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto é liberado para comercialização a partir da comprovação de que atende a função para a qual é destinado e não apresenta riscos à saúde da população.
O QUE SÃO DESINFETANTES DE EFEITO RESIDUAL?
Alguns produtos de ação desinfetante são caracterizados pelo efeito residual. E o que isso quer dizer? São substâncias reagentes que permanecem no local onde foram aplicadas por determinado período, já que se degradam lentamente. De forma mais visual, podemos dizer que esses produtos formam uma película sobre a superfície.
Em contrapartida, os desinfetantes sem efeito residual são aqueles que se decompõem rapidamente, logo após o contato com a superfície. Até mesmo o ar pode gerar uma reação que inativa a capacidade de limpeza do produto.
A partir desse ponto de vista, você pode pensar que os desinfetantes com efeito residual oferecem resultados mais efetivos. Mas isso não é necessariamente verdade e a sensação de segurança pode levar a um relaxamento com a frequência de limpeza. Qualquer ambiente está sujeito a recontaminação, especialmente quando há circulação de pessoas.
Problemáticas do efeito residual: eficácia e segurança
Um dos principais pontos questionados em relação aos desinfetantes com efeito residual é a eficácia, pois não existe uma base científica que a comprove. A Anvisa não exige testes nesse sentido, portanto, a divulgação desse atributo como diferencial ao público é ilegal.
Atualmente, apenas produtos desinfestantes, utilizados no controle de pragas, possuem metodologia para garantir o efeito residual. No caso dos produtos desinfetantes, sabe-se que existe uma ação prolongada, mas que não dispensa as aplicações constantes.
Ainda que o produto de fato crie película protetora sobre a superfície, a inativação desse efeito residual pode ocorrer com facilidade. Os motivos são bastante simples – a deposição de poeira e gordura acontece constantemente e uma ação mecânica é suficiente para a remoção da película.
Outro aspecto importante, ainda incerto, é a segurança dos desinfetantes com efeito residual. Até que ponto o contato contínuo com essas películas não representa um risco para a saúde das pessoas? Qual é o impacto ambiental gerado por esses produtos?
Uma das razões principais para esses questionamentos é o uso cada vez mais comum da nanotecnologia para fabricação de produtos com efeito residual. Esse ramo permite a manipulação de estruturas moleculares, alterando propriedades que permitam alcançar resultados específicos.
Existe um grande potencial na nanotecnologia, que já está sendo explorado nos mais variados setores, mas a área ainda carece de estudos sobre possíveis implicações negativas. No caso dos desinfetantes, há amplo interesse na nanometalurgia – técnica utilizada para aplicação de metais como catalisadores de reações químicas.
A nanotecnologia utiliza elementos extremamente pequenos, que podem ser absorvidos pela pele e alcançar até tecidos mais profundos. Se estamos falando sobre metais, é essencial que saibamos como o corpo humano reage à ultra exposição a esses elementos. O cobre, por exemplo, está entre os mais comuns.
Além da saúde, outro campo de investigação são os riscos ambientais – como partículas tão reduzidas se comportam no contato com o ar, as águas e o solo? A nanotecnologia ainda deixa diversas perguntas em aberto.
Informe-se e preze pela confiança
Na situação em que estamos vivendo, a preocupação com a limpeza está em alta. Esse é um ponto bastante positivo, mas também abre precedentes para divulgações duvidosas. É o que está acontecendo com os desinfetantes de efeito residual.
Lembre-se de que a exposição aos produtos de limpeza acontece diariamente. É preciso questionar soluções que resolvam, de forma aparentemente milagrosa, questões bastante complexas.
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